Nas minhas andanças cada vez mais raras de bicicleta pelo RS afora, ou durante as provas de Audax, várias vezes me indagaram porque faço (fazemos) isso. Em algumas situações o interlocutor não tem a mínima idéia de porque deixamos o conforto de ir de carro para ir de bicicleta.
Certa vez, em São José dos Ausentes, vinha eu, bufando morro acima num calorento dia de dezembro de 2006, pedalando a minha bicicleta de 19kg e puxando um reboque de mais de 20kg quando um cidadão me parou e fez as 2 perguntas que todo ciclo-turista já ouviu::
1) De onde tu vem?
2) Para onde tu vai?
Depois das devidas respostas e dos previsíveis "hãããs?", o cidadão, do alto de sua perplexidade e incompreensão, me pergunta num tom meio constrangido: "É promessa?" :-)
Em outra ocasião, durante o Audax 300 de Caxias em 2004, depois de uma noite chuvosa onde tentávamos "juntar os cacos" e seguir na prova, um gaudério de cima do seu "pingo" fez as 2 perguntas clássicas. Depois das respostas o cidadão exclama a plenos pulmões:
"O prêmio deve ser muito bom, porque vocês estão se f...!"
Naquele momento, alguém com bastante presença de espírito, comentou que o primeiro prêmio era de 10 mil reais e todos que completassem ganhavam uma certa quantia em dinheiro!!
Se fôssemos contar a história toda ficaríamos a manhã inteira ali e correríamos o risco de depois de tudo tomar uns pranchassos de facão por tentar aplicar uma mentira no cidadão.
Sair da volta de casa, encarar o mundo de frente e sair da rotina é fundamental, pois como já escreveu o navegador brasileiro Almir Klink:
" Um homem precisa viajar por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver."
O Audax é um pouco disso, mesmo que por poucas horas, nós vemos a vida como ela é. Nos tornamos frágeis por opção, optamos por sair de nossas casas e nos aventurar muitas vezes por lugares desconhecidos.
O texto do Almir Klink foi retirado do perfil do Bughera do Orkut, aliás, esse cidadão é uma das pessoas que leva essa frase mais a sério. Quem tiver tempo dê uma lida na aventura dele de bicicleta até o Chile.
2 comentários:
Saul Alexandre Rodrigues disse...
Não precisa falar mais nada!!!
Definição exata dos sentimentos e motivações de um cicloturista!!!
PERFEITO!!!
Grande abraço!!!
Saul
Carlos disse...
Opa! E aí Farrapo! Tudo bom? Legal saber que o amigo passa por aqui de vez em quando para dar a sua contribuição!
Só lamento uma coisa na minha vida ciclística: ter descoberto o cicloturismo perto dos 40 anos. Se tivesse despertado para isso na minha adolescência poderia ter aproveitado as minhas férias da época de faculdade conhecendo o RS e o Brasil de bicicleta.
Cada vez mais eu me apaixono por esses breves períodos em que consigo me "libertar" de tudo e posso me "perder" por locais fantásticos que temos por aí.
Um grande abraço e te esperamos ano que vem aqui em Lajeado.
Abraços
Kieling
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